Enem 2017: confira redações nota 1.000

Espelho da redação foi liberado nesta manhã apenas para consulta. Recursos não são aceitos.Por Silvia Tancredi
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou na manhã de hoje, 19 de março, o espelho da redação do Enem 2017. O texto está disponível apenas para consulta. Não são recebidos recursos. 
Mais de 4 milhões de inscritos fizeram a redação no dia 5 de novembro. O tema foi  “Desafio para Formação Educacional de Surdos no Brasil”. Alguns estudantes consideraram o assunto complexo por tratar de um problema que atinge uma parcela específica da população. 
Do total de pessoas que fizeram a redação, apenas 53 tiraram nota mil no texto. No Enem 2016, foram 77 e, no Enem 2015, 104 tiveram desempenho máximo no texto. 
Confira redações nota mil do Enem 2017

Maria Fernanda Gurgel - Ceará

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, já 45 milhões de indivíduos portadores de alguma deficiência no País. Apesar do amplo contingente populacional e dos avanços nos direitos dessa camada da sociedade, esses brasileiros não dispõem de uma inclusão educacional plena, sobretudo os surdos. Esse cenário desafiador demanda a adoção de medidas mais eficientes por parte do Poder Público e de instituições formadoras de opinião a fim de garantir uma melhor qualidade de vida aos deficientes auditivos. 
De fato, o acesso à educação pelos indivíduos surdos é assegurado pela Constituição de 1988 e pelo mais recente Estatuto da Pessoa com Deficiência. No Brasil, entretanto, há uma discrepãncia entre o que é defendido por tais instrumentos jurídicos e a realidade excludente vivida por essa população. Esses indivíduos sofrem, diariamente, com a escassez de materiais didáticos adaptados e com a insuficiente formação de profissionais, que, muitas vezes, são incapazes de oferecer uma educação em Libras. Além disso, grande parte dos brasileiros desconhece tais legislações, o que dificulta a inclusão plena dos deficientes auditivos e evidencia uma atuação negligente do Estado. 
Ademais, de acordo com o pensandor Vygotsky, o indivíduo é fortemente influenciado pelo meio em que está inserido, o que ressalta a importância de certos setores da sociedade, a exemplo de famílias e escolas, na formação cidadã dos brasileiros. Mesmo com essa ampla relevância, diante da persistência de atos discriminatórios contra os surdos no âmbito escolar, como a recusa de matrícula, a segregação em turmas especiais e o bullying, fica evidente o desrespeito que tifica como crime qualquer comportamento intolerante contra os portadores de necessidades especiais, incluindo os surdos. 
Portanto, a fim de garantir a devida formação educacional dos deficientes auditivos, cabe ao Poder Público, por meio da destinação de mais recursos ao Instituto Nacional de Educação de Surdos, garantir uma melhor capacitação dos professores e uma maior disponibilização de materiais adaptados, além de promover informes educativos, mediante as redes sociais, sobre a existência do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Ademais, cabe às escolas garantir, por meio de palestras para os pais de alunos, o devido incentivo de amplos diálogos entre os membros do núcleo familiar, possibilitando uma reflexão quanto ao respeito às diferenças no âmbito domiciliar desde a infância. 
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Maria Juliana Bezerra Costa - Ceará

Em razão de seu caráter excessivamente militarizado, a sociedade que constituía a cidade de Esparta, na Grécia Antiga, mostrou-se extremamente intolerante com deficiências corpóreas ao longo da história, tornando constante inclusive o assassinato de bebês que as apresentassem, por exemplo. Passados mais de dois mil anos dessa prática tenebrosa, ainda é deploravelmente perceptível, sobretudo em países subdesenvolvidos como o Brasil, a existência de atos preconceituosos perpetrados contra essa parcela da sociedade, que são o motivo primordial para que se perpetue como difícil a escolarização plena de deficientes auditivos. Esse panorama nefasto suscita ações mais efetivas tanto do Poder Público quando das instituições formadoras de opinião, com o escopo de mitigar os diversos empecilhos postos frente à educação dessa parcela social. 
É indubitável, de fato, que muitos avanços já forma conquistados no que tange à efetivação dos direitos constitucionais garantidos aos surdos brasileiros. Pode-se mencionar, por exemplo a classificação da Libras - Língua Brasileira de Sinais- como segundo idioma oficial da nação em 2002, a existência de escolas especíais para surdos no território do Brasil e as iniciativas privadas que incluem esses cidadãos como partícipes de eventos - como no caso da plataforma do Youtube Educação, cujas aulas sempre apresentam um profissional que traduz a fala de um professor para a língua de sinais. Apenas medidas flagrantemente pontuais como essas, contudo, são incapazes de tornar a educação de surdos efetiva e acessível a todos que necessitam dela, visto que não só a maioria dos centros educacionais está mal distribuida no país, mas também a disponibilidade de professores específicos ainda é escassa, além da linguagem de sinais ainda ser desconhecida por grande parte dos brasileiros. 
No que tange à sociedade civil, nota-se a existência de comportamentos e ideologias altamente preconceituosas contra os surdos brasileiros. A título de ilustração, é comum que pais de estudantes ditos "nomais" dificultem o ingresso de alunos portadores de deficiência auditiva em classes não específicas a eles, alegando que tal parcela tornará o "ritmo" da aula mais lento; que colegas de sala difundam piadas e atitudes maldosas e que empresas os considerem inaptos à comunicação com outros funcionários. Essas atitudes deploravelmente constantes no Brasil ratificam a máxima atribuída ao filósofo Voltaire: "os preconceitos são a vazão dos imbecís".
Urge, pois, a fim de tornar atitudes intolerantes restritas à história de Esparta, que o Estado construa mais escolas para deficientes auditivos em municípios mais afastados de grandes centoros e promova cursos de Libras a professores da rede pública - por meio da ampliação de verbas destinadas ao Ministério da Educação e da realização de palestras com especialistas na educação de surdos -, em prol de tornar a formação educacional deles mais fácil e mais inclusiva. Outrossim, é mister que instituições formadoras de opinião - como escolas, universidades e famílias socialmente engajadas - promovam debates amplos e constantes acerca da importância de garantir o respeito e a igualdade de oportunidades a essa parcela social, a partir de diálogos nos lares, de seminários e de feiras culturais em ambientes educacionais. Assim, reduzir-se-ão os empecilhos existentes hoje em relação à educação de surdos na Nação e formar-se-ão cidadãos mais aptos à empreender a necessidade de respeito a eles, afinal, segundo o filósofo Immanuel Kant: "O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele".
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Veja também: 
Enem 2018

Conforme o cronograma liberado pelo Inep, as inscrições para o Enem 2018 poderão ser feitas de 7 a 18 de maio. As provas estão marcadas para 4 e 11 de novembro. O Edital, com todas as informações, deve sair nesta quarta-feira (21). 
Fonte: UOL

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